quinta-feira, 23 de julho de 2009



Um amigo muito culto, muito inteligente, me disse certa vez que era capaz de enfrentar um cachorro bravio, mas morria de medo das borboletas. Quais são os riscos reais que uma borboleta produz? Nenhum, a não ser encantar os olhos com sua beleza. O conflito desse meu amigo não são os perigos reais exteriores, mais os perigos imaginários. Seu drama não é gerado pela borboleta física, mas pela borboleta psicológica registrada de maneira distorcida nos solos da sua memória.
Sua mãe lhe disse na infância que, se tocasse numa borboleta com as mãos e as colocasse nos olhos, ficaria cego. Quando meu amigo tocou numa borboleta, sua mãe gritou. O grito de alerta cruzou com a imagem da borboleta. Ambos os estímulos foram registrados no mesmo lócus do inconsciente, na mesma janela da memória. A belíssima e inofensiva borboleta tornou-se um monstro.
Durante toda a infância, quando esse meu amigo enxergava uma imagem de uma borboleta bailando graciosamente no ar, ele detonava um gatilho psíquico que abria em milésimos de segundos a janela da memória em que a imagem doentia estava registrada. A borboleta imaginária era libertada do seu inconsciente, assaltava-lhe a emoção e roubava-lhe a tranqüilidade.
O grande problema é que todas as vezes que esse meu amigo tiver uma experiência angustiante diante de borboletas, ela será registrada novamente, contaminando inúmeras outras janelas da memória. Quanto mais áreas doentias estiverem comprometidas em seu inconsciente, mais ele irá reagir sem racionalidade. Se esse meu amigo não reescrever a sua história, poderá tornar-se uma pessoa fóbica, frágil, sem capacidade de lutar pelos seus sonhos e com tendência a inúmeros outros tipos de medos.
Não é a realidade concreta de um objeto ou ato que importa para nossa personalidade, mas a realidade interpretada, registrada.
Para alguns, um elevador é um lugar de passeio; para outros, um cubículo sem ar. Para uns, falar em público é uma aventura; para outros, um martírio que obstrui a inteligência. Para uns, as derrotas são lições de vida; para outros, um sufocante sentimento de culpa. Para uns, o desconhecido é um jardim; para outros, uma fonte de pavor. Para uns, uma perda é uma dor insuportável; para outros, um golpe que lapída o diamante do coração.
Temos que tomar muito cuidado! Quem define a história é a nossa mente, se sonho ou pesadelo. Privamo-nos de viver um sonho, por interpretá-lo de forma em que o transformemos em um pesadelo.
Criamos monstros que dilaceram sonhos. Quantos monstros imaginários foram arquivados nos subsolos da nossa mente furtando nosso prazer de viver e dilacerando nossos sonhos? Todos temos monstros escondidos por detrás de nossa gentileza e serenidade.
A maneira como enfrentamos as rejeições, decepções, erros, perdas, sentimentos de culpa, conflitos nos relacionamentos, críticas e crises profissionais, pode gerar maturidade ou angústia, segurança ou traumas, lideres ou vítimas. Alguns momentos geraram conflitos que mudaram nossas vidas, ainda que não percebamos.
Algumas pessoas não se levantaram mais depois de certas derrotas. Outras nunca mais tiveram coragem de olhar para o horizonte com esperança depois de suas perdas. Pessoas sensíveis foram encarceradas pela culpa, tornaram-se reféns do seu passado depois de cometerem certas falhas. A culpa os asfixiou.
Algumas pessoas nunca mais se levantaram depois de atravessar uma crise financeira. Mulheres e homens perderam o romantismo depois de fracassarem em seus relacionamentos afetivos, após terem sidos incompreendidos, feridos incompletos ou não amados.
A complexidade da mente humana nos faz transformar uma borboleta num dinossauro, uma decepção num desastre emocional, um ambiente fechado num cubículo sem ar, um sintoma físico, que é o meu caso agora, em um prenúncio de morte, um fracasso num objeto de vergonha.
Precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta. Não podemos nunca esquecer que os sonhos, a motivação, o desejo, a liberdade nos ajudam a superar esses monstros, vencê-los e utilizá-los como servos da nossa inteligência. Não tenha medo da dor, tenha medo de não enfrentá-la, criticá-la, usá-la.
Amo sua linda vida!!!





“Os sonhos trazem saúde para a emoção, equipam o frágil para ser autor da sua história, renovam as forças do ansioso, animam os deprimidos, transformam os inseguros em seres de raro valor.
Os sonhos fazem os tímidos terem golpes de ousadia e os derrotados serem construtores de oportunidades.”
Frases de Augusto Cury

Um comentário:

  1. Achei muito interessante a matéria, de muita sabedoria... e que também nos mostra a nossa realidade, pois seria muita hipocrisia não admitirmos que nos encaixamos em muitas coisas do texto relatado acima.
    Porém o meu desejo é que apesar dos nossos monstros ou ameaças imaginárias... possamos ir além, vencendo-os... pois somos mais forte do que podemos imaginar. Pena que nossa mente humana tem mais facilidade em acreditar no que pode nos destruir do que nas coisas construtivas... Mas conseguiremos, basta não desistirmos de sonhar!!!
    Pois será através deles que alcançaremos muitas curas interiores.

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